O professor Luiz Gonzaga da Silva me foi apresentado por meu pai, o violonista e professor Célio Silveira , que o conheceu na década de 70, por intermédio do luthier José Zacarias dos Santos, um dos discípulos do talentoso mestre alagoano radicado no Rio de Janeiro desde a segunda metade da década de 40.
Nossa convivência mestre/aluno teve duas fases. Na primeira tinha eu nove anos e já havia iniciado o estudo do violão com meu pai. O professor Gonzaga trabalhou comigo o Volume I do Método espanhol, baseado na Escola de Tárrega , La Escuela de la Guitarra, de Mário Rodrigues Arenas. Logo após ingressei na Escola de Música Heitor Villa-Lobos, onde estudei com os violonistas,Dorival Lessa, Nélio Rodrigues e Graça Alan, com quem prossegui em outras fases, interrompendo assim as aulas com o mestre Gonzaga. Depois de alguns anos retornei a ele- e foi esta a segunda fase.Gonzaga orientou-me a trabalhar outros níveis do método, pois, tendo eu estudado peças de níveis variados, corria o risco de pecar por falta de uma estrutura didática.
Desde criança eu admirava sua rotina como professor, mas somente na adolescência pude dimensionar sua importância artística no sentido mais amplo:não só por sua vasta cultura musical, mas por se tratar de uma figura importante para a história do violão em Niterói e para música brasileira. Em 1995, orientado por Graça Alan,ingressei no Curso Superior de Violão da UFRJ.Graças aos trabalhos que lá apresentei em seminários de História da Música, Folclore e Música Popular Brasileira, comecei a pesquisar a obra de Gonzaga, mapear influências, percebendo então suas peculiaridades como compositor. Passei a identificar seu estilo, sua criatividade e invenção, valorizei sua história, o que contribuiu em muito para meu crescimento pessoal e profissional, porque, além de pôr em evidência a importância do compositor; eu desenvolveria um projeto de mestrado, visando uma perspectiva mais abrangente para as questões às quais venho me dedicando com grande empenho.
Em 1997, o violonista Turíbio Santos, que já era meu professor na UFRJ, indicou-me como professor de violão a Dora Silveira, então diretora do MAC (Museu de Artes Contemporâneas de Niterói),onde,a partir de então,atuei por vários anos. Nesse período fui apresentado pela senhora Dora ao presidente da FAN (Fundação de Artes de Niterói), Cláudio Valério Teixeira. Este, além de artista plástico,era violonista,e pôde valorizar a obra do Mestre apoiando a gravação de suas peças com o selo da prefeitura e viabilizando as primeiras homenagens ao compositor, no projeto “Música e Patrimônio”(que, aliás, tinha como coodenador outro ex-aluno do professor Gonzaga, trata-se do maestro Luiz Gonzaga Bastos,Lula Bastos). Em 1998 lancei meu primeiro disco solo (Wagner Meirelles /Violão Brasileiro – Niterói Discos), com cinco peças dedicadas ao compositor, que assim teve sua estréia fonográfica. Foram elas: Sambas sincopados 1 e 2 ,Orangotango (Samba bossa-nova)Aprazível (Prelúdio) e Choromingo nº3
Isto, além de projetá-lo no cenário musical brasileira, propiciou-lhe, por causa dos direitos autorais, a realização de um sonho de cinqüenta anos: visitar sua família de origem, que havia deixado em sua terra natal.
Desde então, todos os anos, em agosto, mês de seu aniversário, são realizados eventos(como: recitais e palestras),em sua homenagem. Os violonistas identificaram em Gonzaga o último grande compositor-violonista de sua geração a ser descoberto até agora. Em 2001, produzimos o primeiro CD somente com suas músicas “Fazendo Música” novamente pelo selo de Niterói. Atuei como produtor e intérprete, com a colaboração de mais sete violonistas: Artur Gouvêa, Célio Silveira, Edgard Oliveira, Francisco Frias, Graça Alan, Marcos Llerena e Sergio Knust. O evento a cada ano se torna mais representativo no cenário artístico do Rio de Janeiro, sempre dando oportunidade a jovens violonistas das Faculdades de Música do Estado e convidando, além de artistas locais, figuras expressivas no meio musical acadêmico. Assim, graças ao espírito de equipe e colaboração desses músicos, pude continuar a divulgação da obra do compositor.
No recital de 2004, alguém que estava na platéia comprou uma caixa de discos, parabenizou a iniciativa e disse: “Que bom ver o Gonzaga valorizado desse jeito”. Só depois fui saber que se tratava do então Reitor da UFF, Cícero Fialho, que havia sido seu aluno;e que os discos comprados seriam levados para um congresso na França. Cícero Fialho, após tomar conhecimento da organização do recital, inclusive de meu projeto no mestrado sobre o mestre alagoano, comprometeu-se com o projeto de divulgação desse compositor brasileiro. Assim nasceu a possibilidade da parceria com a Universidade Federal Fluminense para a divulgação da obra de Luiz Gonzaga da Silva.
Tudo isso levou ao meu Mestrado em Práticas Interpretativas,na UFRJ, sob orientação do professor Turíbio Santos, que apoiou a pesquisa de forma responsável,tomando cuidado com a fidelidade das informações, exemplificando o que afirmo e produzindo o texto sem supervalorizar ou maquiar dados. O resultado da divulgação iniciada nos anos 90 já é promissor, pois o compositor é interpretado por violonistas, alunos e professores das Faculdades de Música e Conservatórios do Estado do Rio de Janeiro; e seu repertório já foi apresentado em recitais/provas de Bacharelado e Mestrado em Música na UFRJ.
No mês de novembro de 2007 aconteceu, na Biblioteca Central da UFF, uma exposição de manuscritos de sua obra e de instrumentos por ele feitos. Na ocasião fiz palestras sobre o compositor e recitais com sua obra. No término da exposição, um dos espectadores contou ter um irmão escritor que havia lançado um livro de contos um dos quais era sobre o mestre Luiz Gonzaga da Silva. Tenho certeza de que,da mesma forma que esta notícia, outras informações, partituras ou documentos poderão aparecer, pois o compositor presenteava os amigos e alunos com músicas compostas exclusivamente para eles.